domingo, 30 de junho de 2013

Vampiros :Viagem astral, duplo etérico e corpos sutis

A primeira morte se dá nos domínios de Demeter, a
segunda tem lugar no além, nos domínios de
Perséfone. A primeira é brutal e violenta, a segunda
lenta e suave.
Plutarco

Para entender melhor o fenómeno do vampirismo e como se processam seus ataques, iremos abordar os corpos sutis e a anatomia oculta dos seres humanos.
Não se trata em absoluto de uma novidade; a acupunctura e seus meridianos, o Yôga e o processo de evolução através dos chacras se valem da anatomia oculta há milénios.

Grosso modo, seria o corpo energético ou psicossomático, através do qual podemos entrar em contacto com outras realidades, entre outras coisas.
Estes corpos ficaram muito mais conhecidos nos últimos anos, com a popularização da técnica chamada viagem astral, que, creio, o leitor conhece ao menos em tese. Na viagem astral ou projecção da consciência, o corpo físico fica em repouso e o corpo astral é lançado. Todas as pessoas têm essa capacidade, umas mais naturalmente que outras, mas isso pode ser melhorado através do emprego de determinadas técnicas. Como já dissemos, não há nada de novo na viagem astral, e toda noite nos projectamos, a maioria das pessoas inconscientemente.

As reuniões ou sabás das bruxas eram feitos dessa forma, daí a capacidade de “voar”; a viagem astral não se restringe aos praticantes da Arte dos Sábios (bruxaria); xamãs, magos e yogues se valeram da viagem astral consciente para o seu aprendizado. A glândula pineal tem um papel importante na fenomenologia oculta — muitos viajantes astrais acham que esta glândula é a porta, ou, se preferirem, o “lançador” do corpo astral. De médico e louco todos temos um pouco, o praticante de magia em especial.
Os fenómenos paranormais muitas vezes causam uma ruptura com a pseudo-realidade, levando o iniciado a ser dado como louco.

O sahasrara chacra tem uma relação especial com a pineal; o objectivo da ascensão da kundalini, a iluminação, é conseguido ao se elevar a energia ígnea (kundalini) até esse chacra. As pessoas que passaram por esse processo narram tanto as maravilhas como os gigantescos terrores; a mente e a realidade se tornam irreais e uma nova realidade se descortina, lembrando que mesmo esses estados fantásticos não são o objectivo último. Os quatro elementos são chamados pelo espírito para uma dança de roda, e este está no centro — a dança de Shiva.

A fogueira acesa crepita vários metros, o som do ar e do fogo enche nossos ouvidos, e a natureza ganha vida, tudo é vivo, e estamos em tudo. Quântico, energia, mares de energia, nas mais variadas formas.
Êxtase infinito, o corpo treme como nos estertores da morte, mas ela é nossa amiga, o derradeiro portal; juntas, de mãos dadas, as irmãs vida e morte caminhantes rumo ao eterno. O medo, o terror, uma criança que nasce, uma nova realidade milhões de vezes mais abrangente.

Seres espectrais, como demónios, elementais negros ou Asuras se aproximam. Mas o que eles podem contra nós? São nossos irmãos, no seio da mãe cósmica. Um vôo ao eterno, a sensação é de vertigem, não há palavras para descrever o inefável. Mandalas tridimensionais, infindáveis, girando, girando, somos recebidos por Ch’ien, o Dragão cósmico, o criativo. O ser atemporal, infinito, tudo sei, tudo posso, sou uma criança e um velho. Mas vem a saudade do ser encarnado, limitado no tempo e no espaço, e é o momento de voltar.

O vampirismo está associado à magia e à bruxaria em todo o mundo. Um praticante de magia em vida, na morte pode se tornar um vampiro, ou mesmo estando vivo pode se valer da projecção astral (duplo etérico) para drenar energia dos vivos. Antes de prosseguirmos neste ponto, faz-se mister trazer à baila um outro conceito, a energia prânica.

Prana é a energia do Sol; ela é encontrada em todos os seres. É fundamental para a manutenção da vida. Para absorver a energia prânica usamos o duplo etérico, que é um elo de ligação entre o físico denso e o corpo astral (nota: todos esses corpos são físicos, na verdade não há diferença entre físico e espiritual, são níveis diferentes da mesma coisa; para melhor compreender isso, usemos a teoria da relatividade, onde a matéria equivale à energia). A função do duplo etérico é captar a energia prânica durante o sono. Duplo etérico é prana maya kosha, ou o veículo do prana.

Em projecções longas, o corpo físico fica em catalepsia, como um cadáver, a respiração e os batimentos cardíacos caem a níveis mínimos. Tanto é que alguns projectados já foram dados como mortos.
Os iogues conseguem levar essa prática às ultimas consequências; são enterrados vivos por semanas, enquanto seu corpo astral vaga e ajuda a manter o físico. Não esquecendo, é claro, os pranayamas e a meditação profunda.

Um faquir, na Índia, foi enterrado por um mês (!) sob a supervisão de Sir Claude Wade. O faquir foi lacrado em uma caixa, e a chave dada a Sir Claude. Ficou enterrado dentro de um túmulo de alvenaria e coberto de terra. Guardas ficaram a postos pelos trinta dias.
Transcorrido o prazo, ele foi desenterrado.
Aparentemente estava morto, mas foi desperto pelos seus companheiros.

O duplo é o responsável pelo ectoplasma e grande parte da fenomenologia espírita, ou seja, ele propicia materializações, ruídos e toda a sorte de manifestações.

Os médiuns, após as sessões de materialização, ficam extenuados; ao que tudo indica, muito da sua energia é gasta na materialização, mais um motivo para que os magos negros se valham do vampirismo para abastecer-se de energia.

Outro fato relevante é que os médiuns apresentam alguns sintomas das vítimas de vampirismo, mas de forma alguma esse fenómeno se restringe ao dito espiritismo. Qualquer mago que tenha conseguido uma materialização saberá o desgaste advindo, talvez menor que no caso dos médiuns, mas da mesma forma presente.

Z. T. Pierart, um espiritualista francês e editor da revista La Spiritualiste, foi um opositor do espiritismo e das idéias de Kardec. Achava que o vampiro era o corpo astral de uma pessoa enterrada viva, que usava o vampirismo sobre seu corpo enterrado para se manter vivo por mais tempo. Magos experientes podem adensá-lo (materializando-o), e isto pode ocasionar um fenómeno chamado repercussão, sobre o qual muito se falou. Uma bruxa está materializada (duplo etérico). Se por acidente ela se fere, esse ferimento pode ser transmitido ao corpo físico.

Os relatos desse tipo são inúmeros, e a literatura do ocultismo está cheia deles, sem falar que o duplo podia tomar formas variadas, daí a licantropia e a capacidade do vampiro de se metamorfosear em vários seres. Para os ciganos alemães o Vampiro deixava seu esqueleto na tumba; daí vem a crença de que os Vampiros não têm ossos. Possivelmente o duplo materializado tinha uma constituição sólida, mas de uma solidez diferente da matéria vulgar. Toda noite o duplo absorve a energia prânica do ambiente. Esse fato é deveras contundente, basta para tanto imaginar que todos os seres ao dormir estão se nutrindo dessa energia. Quando, por algum motivo, esse prana é absorvido de outro ser, temos o vampirismo.

Lembrando que o prana no corpo humano se concentra em especial no sangue! No capítulo II, falamos de uma crença na Roménia de que Vrykolakas são almas de pessoas que saem à noite para alimentar-se da energia do Sol e da Lua. Elas lembram, fisionomicamente, os suspeitos de Vampirismo. Esse relato é uma prova bastante forte a respeito do porquê do fenómeno do vampirismo.

Indagar o porquê do vampirismo nos traz uma infinidade de motivos. O morto-vivo é talvez o mais facilmente explicável, pois a morte romperia a capacidade normal de absorção de prana, e isso se torna premente em espectros presos à terra, para que não sofram a segunda morte. O caso do vampiro vivo é mais complexo; de certa forma, são pessoas de índole vampírica, que tem sua expressão das mais variadas formas, como jogos de poder, sadismo, fins mágicos, ajuste de contas, sexo, etc. Lembrando que estamos falando de projecção astral, e não do que poderíamos chamar de sanguessugas energéticas, aquelas pessoas que nos deixam extremamente cansados após o contacto com elas.

Distúrbios nos corpos sutis podem ocasionar o vampirismo, mesmo sem a pessoa ter consciência do que faz. Para os reencarnacionistas, vícios de vidas passadas podem ser uma motivação. Obsessão seria outra fonte: entidades agiriam como “más companhias” para a pessoa. A gama de hipóteses é gigantesca; coloquei aquelas com que entrei em contacto ou que são bastante lógicas partindo dos conhecimentos que disponho.

Collin de Plancy, em seu Dicionário Infernal, menciona que os Vampiros podiam ser animados pela luz da Lua, para daí sugar os vivos. A alquimia interior também é trabalhada pelo uso da anatomia oculta do homem. Ela visa, entre outras coisas, o elixir da longa vida. Um mantenedor da juventude, a escola tântrica taoísta, é uma das que trabalham com essa fórmula. Na verdade, esse elixir é feito com os próprios fluidos humanos — o recipiente, a retorta e o alambique alquímico são o corpo. Grande parte do emprego da energia nas artes marciais é advinda dessa escola e, para não ficarmos tão longe da nossa realidade, Hélio Gracie, que pode ser chamado de pai do estilo Gracie de Jiu-Jitsu, é um praticante dessa técnica.

A ligação do vampirismo com a sexualidade é proverbial, inclusive há vários relatos da actividade sexual intensa de alguns vampiros, sendo que entidades vampíricas das mais diversas culturas têm um grande interesse na energia sexual dos humanos.

Para os chineses, o ser humano tinha dois corpos sutis. Um deles era irracional e selvagem, e o outro, racional e composto pelos aspectos superiores da psique. O corpo etérico superior poderia viajar pelas imediações. Se algo ocorresse a esse corpo, seria automaticamente transmitido ao físico. O corpo etérico, às vezes, tomava a forma de algum animal, o que nos faz lembrar do xamanismo e seus animais de poder. O corpo físico inferior, chamado pelos chineses de P’o, após a morte, em alguns casos se mantinha ligado ao físico, noutros existia como cascarrão e não se desintegrava. Se persistisse nessa situação, se tornava um Chiang-Shih, ou seja, um vampiro. Essa crença chinesa, muito sofisticada, tinha ainda um detalhe: o hun ou alma superior encarnava no momento do nascimento. Há uma crença bastante difundida no ocultismo de que a encarnação se dá quando os pulmões se enchem de ar pela primeira vez. Parte daí o fato de o mapa astrológico ser feito com a hora do nascimento, e não da concepção.

O feto só teria o P’o ou alma inferior, vale salientar, e por isso estão amplamente relacionados ao vampirismo os natimortos e todos os óbitos advindos de problemas de parto. Este é um tema deveras interessante, e pouco conhecido, mesmo no espectro de temas do ocultismo. O P’o não necessita do corpo inteiro; basta-lhe uma parte do esqueleto ou, melhor ainda, o crânio.

O interessante é que os egípcios tinham uma compreensão idêntica, e não só eles, várias outras tradições (o culto do vodu, por exemplo). De acordo com convicção do vodu haitiano, toda pessoa tem duas almas: quando uma pessoa morre, uma das almas segue para o céu. A outra alma fica nas proximidades do cadáver, ou vagando pelo mundo. A alma que vaga é chamada no vodu de zumbi, que pode ser a alma de alguém que teve morte violenta, um adolescente, ou uma pessoa que por qualquer motivo não teve os ritos fúnebres.

Os egípcios tinham o Ba e o Ka, sendo que a unificação dos dois venceria a morte, tornando a pessoa imortal, a quem nós interpretamos como sendo um iluminado. Este fato era simulado ritualisticamente na entronização do Faraó como governante do baixo e do alto Egipto. Sendo que ele unia em si através deste ritual Seth e Hórus, havia uma peregrinação até Ombos, santuário de Seth, e a Edfu, templo de Hórus. A alma da escuridão e a alma da luz, Seth e Hórus, Crowley os representa pelas divindades Hoor-Paar-Kraat e Ra-Hoor-Khuit — um é a sombra, a escuridão, o outro, a Luz, o Sol. Para a cabala Nephesch e Ruach, respectivamente (isso será mais bem explicado no capítulo referente à cabala). Os egípcios tinha um cuidado todo especial com o morto, tanto que uma série de preparativos era feita no sepultamento.

Após a morte, o duplo do morto voltaria até o corpo, saciaria-se com as oferendas de alimentos, e estaria amparado por toda a sorte de coisas que teve em vida ou símbolos religiosos. As pinturas e estátuas eram representações que visavam apaziguar o morto do choque decorrente da morte, e consolá-lo. De forma alguma isso se restringiu ao Egipto; no Leste Europeu, pequenas estátuas do sexo oposto do morto eram colocadas por vezes no caixão. Por toda a história, temos os enterros colectivos, nos quais uma figura de poder se fazia acompanhar por toda uma corte, incluindo a viúva, costume praticado até hoje na Índia.

O Leste Europeu tem crenças similares; os sérvios acreditam que o Vampiro tem dois corações e, por causa disso, duas almas. Essa crença também é comum à Roménia. Na Eslováquia, dizia-se que o vampiro tinha um coração extra, sede real de sua vida.

Muldoon, um dos maiores viajantes astrais de todos os tempos, menciona que o que faz uma alma ser presa é a loucura, o desejo, o hábito e o sonho. Ele derruba por terra a idéia moralizante a respeito dos espíritos presos à terra, já que são as condições angustiantes da morte que motivam esse fato, não o carácter do defunto. O trauma da morte é reencenado inúmeras vezes após o óbito, daí grande parte das assombrações. Fechando o leque, vários Vampiros tiveram morte violenta, e por isso se tornaram vampiros, uma alternativa para se abastecerem de energia.

Muldoon também fala que o cordão etérico e a mente supraconsciente produzem grande parte das manifestações, sejam elas os movimentos de objectos ou a descoberta de coisas ocultas. Ou seja, uma pessoa pode assombrar uma casa, receber espíritos e mais uma infinidade de coisas graças à sabedoria atemporal que reside dentro de si mesma. Muldoon menciona Eusapia Paladino, uma médium que conseguia tocar um instrumento musical pelo simples dedilhar, mesmo ele estando a dois metros de distância. Por algum tempo, ela o fazia no ar, mas após breves minutos isso era transmitido ao instrumento. Muldoon dá um exemplo explicando essa capacidade, que para o nosso estudo é deveras importante. Ele compara a capacidade mediúnica a um cachorro dormindo, que sonha que caça uma lebre. Sonha tão intensamente que o fantasma do cão pode apanhar uma lebre no campo e matá-la. Dá muito que pensar esse exemplo. As viagens astrais são motivadas na sua maior parte por factores subconscientes; dessa forma, os vários aspectos da vida têm um peso no condicionamento da viagem astral. Fome, frio e preocupação podem gerá-la.

O sexo também é um dos grandes motivadores da viagem astral. Em uma de minhas primeiras viagens com emprego de técnicas, deu-se dessa forma. Encontrei uma amiga no astral e conversamos um pouco. Ao despertar no outro dia, fui ao encontro dela sem falar-lhe nada. A primeira coisa que ela me contou foi o sonho que teve comigo e a nossa conversa, cujos temas tinham sido coincidentes.

Na Grécia antiga havia o costume de colocar-se uma moeda na boca do morto, uma taxa para ser paga ao barqueiro Caronte. Caso isso não fosse feito, a pessoa morta seria condenada a vagar, não podendo entrar no reino dos mortos. Caronte era quem fazia a travessia do Estige, o rio odioso, que separava o reino dos vivos do reino dos mortos, presidido por Hades. Essa crença permanece viva até hoje entre os camponeses gregos, de uma forma modificada. Nela, Caronte é senhor da morte, fantasmas e sombras.

O mais interessante em tudo isso é que a moeda naquela época estava associada a algum pentáculo mágico, e era colocada na boca justamente por ser por onde o espírito entra no nascimento, e sai, na morte. Dessa forma, o defunto estaria livre de ter seu corpo (seja o físico ou o duplo) possuído por outro ser. Tanto é assim que uma adulteração posterior colocava hóstia cristã na boca do defunto, nítida adaptação do saber ancestral. Muitas dessas moedas são cunhadas nos dias de hoje com os mesmos símbolos usados nas casas para impedir a entrada do vampiro.

Em alguns locais da Europa, há uma crença que reforça o uso do duplo etérico na actuação do vampiro: pessoas que nascem com uma membrana cobrindo suas cabeças são vampiros em potencial. Estes recebem o nome de Kudlak, e reza a tradição que suas almas abandonam seus corpos em forma animal para atacar suas vítimas ou lançar sortilégios mágicos sobre a cidade onde vive. Após a morte, são ainda piores. Mas há uma outra possibilidade: o bebé pode vir a tornar-se um Kresnik, que sairá de seu corpo à noite, mas para lutar contra os Kudlak e contra os mortos-vivos em geral.

Um fenómeno muito curioso é a combustão espontânea: estudos revelam que os alcoólatras e as senhoras obesas de meia idade são os candidatos a ela. A vítima queima sem explicação aparente, e nem peritos, legistas ou policiais encontram explicações. O mais estranho é que muitas vezes a roupa do morto se mantém intacta, e objectos ao redor também, apesar de ser bem sabido que, para incinerar o corpo humano, são necessárias altas temperaturas que tecnicamente destruiriam tudo à sua volta. Aparentemente, esse fogo brota do interior da vítima, uma implosão ígnea.

Incluo este tópico devido ao fato de os vampiros em muitos relatos serem destruídos pela luz do Sol, sendo consumidos em chamas; na casuística vampírica, há também combustão em alguns casos de estaqueamento. O trabalho de ascensão da kundalini pode provocar o despertar de capacidades como a clariaudiência, a clarividência, entre outros. Uma parte importante no trabalho com a kundalini é a dos nadis; são canais de energia que existem no corpo humano, os mesmos da acupuntura.

O central chama-se sushumna; ele está no centro do corpo, mais precisamente na coluna vertebral. Vai do muladhara chacra, na base da espinha, até o sahasrara chacra, no alto da cabeça. Além desse canal central existem outros dois canais, Pingala e Ida, solar e lunar respectivamente. Pingala, do lado direito do corpo masculino, dinâmico e racional; Ida, do lado esquerdo do corpo feminino, intuitivo, emocional associado ao rio sagrado Ganges. Esses canais são conectados às narinas, só que invertidos, ou seja, Pingala na narina esquerda e Ida na direita.

Na circulação sanguínea, o sangue arterial é solar, o venoso é lunar, e podemos levar isso aos dois princípios: a alma solar e a lunar. Curiosamente, o Pingala tem sua localização no umbigo, e Ida, no centro da cabeça (alguns o colocam no palato).

Uma história ocorrida em uma vila da Bulgária nos fala sobre um vampiro que ilustrará as explicações anteriores. Um rapaz chega até a vila, casa-se com uma moça e leva aparentemente uma vida normal. Durante sua estada, o local foi palco de estranhos ataques: cavalos e bois estavam morrendo, e não havia sangue neles. A mulher do rapaz notava sua ausência todas as noites, e ele voltava somente ao amanhecer. Os boatos das saídas noturnas do rapaz se fizeram conhecer pela comunidade, e um grupo foi até sua casa e o prendeu. Examinado, foi constatado que apenas uma das narinas era utilizada. Foi levado até o alto de uma colina e queimado vivo.

Alguns relatos de vampirismo mencionam esse aspecto de uma única narina sendo utilizada. Muito possivelmente, o vampiro está vinculado apenas à corrente lunar. O fato em si levanta uma série de indagações, e nos leva a uma observação: a de que o vampirismo está intimamente ligado ao feminino, e às energias a ele relacionadas, sendo o fenómeno do vampirismo um desequilíbrio entre as duas energias, feminina e masculina, lunar e solar, Seth e Hórus, etc.

O Bardo Thodol, O Livro dos Mortos Tibetano, é um compêndio de técnicas para a boa morte, cujo objectivo seria conduzir o moribundo a vencer a Roda do Samsara, o ciclo de nascimentos e mortes. Ele principia com técnicas que visam fazer com que o moribundo veja a luz clara e liberte-se, e caso ele não consiga isso nos primeiros dias, a partir do oitavo ele travará contacto com as divindades irritadas, também chamadas de bebedoras de sangue. O curioso é que são as mesmas divindades benevolentes, mas sob um novo aspecto.

O mais curioso ainda é que medo e fuga não são a saída, mas sim se fundir a elas, encará-las como princípios divinos de grande sabedoria, e dessa forma o estado búdico é alcançado. O Livro dos Mortos Tibetano, Bardo Thodol, nos fala que devemos homenagear essas divindades bebedoras de sangue em vida, para que possamos estar acostumados com elas na morte. E vai mais longe: mesmo os que viverem de forma imperfeita alcançarão a salvação se conseguirem assimilar esse princípio, e mais manifestações físicas de sua superação se farão presentes no momento de sua morte, e visíveis a todos. Para imaginarmos como era a visão dessas divindades bebedoras de sangue, descreveremos a que surge no nono dia após a morte.

A divindade chama-se Bagavã Vajra Heruca, tem três rostos, seis mãos, quatro pés. Em uma das mãos, segura um escalpelo, em outra, um dorjê, e nas demais mãos, uma clava, um sino, uma relha e mais um escalpelo. Junto a ele está Vajra Satva, a Mãe, que leva até a boca de Bagavã Vajra Heruca uma taça cheia de sangue. Para o budismo os deuses eram seres poderosos, mas nem por isso deixavam de ser ilusão. Ou seja, seus princípios deveriam ser absorvidos e transcendidos.

Ler o Líber DCCCXIII Vel Ararita, de Crowley, nos leva à experiência directa; ele se defronta com todas as divindades, e sabe que todas são Maya, ilusão, etapas no caminho, não o fim da jornada. Uma das máximas thelêmicas é: “Não há deus a não ser o homem”, e se pensarmos no budismo tibetano e no conceito de Buda, ou seja, desperto, iluminado, aquele que sabe, ele é humano, um humano que expandiu as fronteiras do si mesmo. Um homem que se tornou mais que todas as divindades, indo à causa de todas elas e sendo sua causa.

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